6.9.05

Voltando à ativa

Há algumas semanas, comecei uma série de entrevistas num processo seletivo de uma grande empresa do ramo telefônico. Finalmente a esperança voltou a aparecer em casa.
Resumindo a ópera: vaga interna, mas como fui indicação de alguém da diretoria, fui chamado para o processo.
A entrevista com a pessoa do RH foi muito legal. Simpática como todo funcionário desse departamente deve ser, me deixou bastante a vontade e me aplicou uma bateria de testes de LÓGICA e MATEMÁTICA. Até aí, tudo bem, se não fosse uma vaga para MARKETING. Bom, fiz a prova e fui razoavelmente bem, já que meus conhecimentos do 2º grau não se apagaram completamente. Como justificativa, o funcionário explicou que o gestor da área era uma pessoa de raciocínio lógico, que olha resultados como dados em planilhas e mais um monte de blá-blá-blás cartesianos.
Saí de lá com aquela velha despedida do "Aguarde o nosso próximo contato".
Duas semanas depois, chego em casa e escuto um recado na secretária eletrônica: "Compareça urgente para entrevista marcada com gestor da área. Você está classificado. Esteja aqui amanhã às 16h."
Nossa! É a minha chance! Miséria nunca mais!
No dia seguinte, refiz todo o ritual pré-entrevista de emprego: escolhi meu melhor terno, engraxei o sapato, fiz a barba depois do banho, me troquei e saí com bastante tempo de folga.Ao chegar lá, apesar da hora marcada, me deram um chá de cadeira pois, como descobri no final da entrevista, todos os classificados foram chamados no mesmo dia. Após uma hora e meia de espera, fui chamado pelo executivo responsável da área.Muito simpático, também me deixou bastante a vontade durante a entrevista. Começou com as perguntas básicas de sempre como "Me fale um pouco de você e de sua carreira", "Por que você saiu de lá?", "Quais suas ambições", "Qual seu sonho de consumo", etc.
Então, veio a pergunta crucial: "O que você mais gosta de fazer em Marketing?"
Depois da minha resposta, a pessoa me olhou com uma cara do tipo "Não acredito que perdi meu tempo com você" e me perguntou se eu sabia que tipo de profissional eles estavam procurando.A primeira resposta que me veio à cabeça (e a que acabou saindo pela minha boca) foi: "Não fui informado, mas como me chamaram, creio que seja alguém com o meu perfil".
Não satisfeito, o funcionário me fez outra pergunta, que no começo me pareceu inocente, mas se revelou comprometedora: "Qual sua última remuneração?"
Ao responder, ele me disse: "Como posso contratar uma pessoa que ganhava isso e terá que gerir funcionários que ganham praticamente o dobro?"
Na hora, minha cabeça travou. "O dobro do meu salário anterior? Caraca, quanto será que eles vão pagar para esse cargo então?" Fiquei sem resposta. Fui pego de calças curtas. Me senti um moleque da 8ª série discutindo com um veterano do 3º ano de faculdade. Logo eu que tenho resposta pronta pra tudo! Então, me dispensou dizendo que eu não tinha o perfil, me desejando boa sorte.
Saí de lá arrasado, com vontade de chutar o primeiro cachorro que aparecesse.
Cheguei em casa e desmontei no sofá, pensando comigo mesmo: "Por que me chamaram se eu não tinha o perfil? O que tem a ver meu salário anterior com a minha capacidade? Meu CV fala do começo ao fim que eu sou de planejamento, não de PROMOÇÃO. Que cazzo essa pessoa tinha em mente ao me chamar? Ela leu meu CV antes da entrevista?"

Bom, deu pra tirar algumas lições dessa encrenca:

- QI é ótimo! Muitas histórias de sucesso que a gente vê por aí só tiveram o final feliz por causa da boa e velha "indicação de uma pessoa que, tenho certeza, você vai adorar e se não adorar vou ficar muito decepcionado com você".
- QI não necessariamente quer dizer que você está contratado.
- As seleções estão ficando cada vez mais mirabolantes e sem nexo.
- Por mais que seu CV seja uma homenagem à objetividade e clareza, ninguém vai lê-lo com atenção.
- Não deveria ter me deixado abater pela afirmação do salário. Na próxima, não seguro minha lingua e respondo de bate e pronto: "E o que tem a ver competência com o fato de eu ter trabalhado em empresas pequenas que não têm salários condizentes com o mercado? Quer dizer que se meu último emprego foi como diretor de uma empresa pequena não posso alçar vôos mais altos?"

E a melhor e mais importante:

- Aquela empresa de merda não me merece mesmo.